Tirando o pé do acelerador....
Historicamente desde a
Revolução Industrial até o presente momento temos feito de tudo para conseguir
agilizar ao máximo nossas vidas. Criamos uma enorme quantidade de máquinas e
recursos para que nossa existência se tornasse cada vez mais prática. Não pensamos
mais em velocidade, vivemos de forma acelerada ao quadrado, ao cubo ou a qual
potência máxima pudermos atingir. Quando os primeiros automóveis surgiram e
definiram através de seus notáveis motores à combustão que poderíamos andar a
uma velocidade que mal atingia os 40 quilômetros por hora estipulamos que nas
décadas seguintes teríamos que superar o que até então era uma marca notável
para a humanidade.
Quando nossos primeiros
computadores surgiram, com suas ainda minguadas velocidades de processamento,
pensamos que estávamos próximos do paraíso. Mas resolvemos conseguir muito mais
e continuamos pensando em exponenciar suas capacidades e condições a um nível
que nos possibilitasse o acesso a todas as informações do mundo em questão de
segundos ou frações dessa minúscula unidade de tempo. A internet e sua incrível
capacidade de nos trazer um enorme manancial de informações também sofre
constantes alterações em direção ao hiperespaço. Não conseguimos viver sem
redes e provedores que se superem mais e mais a cada novo dia. Tempo não é só
dinheiro, virou praticamente o karma de todos os seres humanos, especialmente,
nós que vivemos em nosso mundo ocidental.
Comemos em poucos minutos e
muitas vezes de pé, diante de um balcão, sem as condições adequadas para fazer
a digestão como deveria ser feita. Aceleramos nossos veículos e burlamos os
limites de velocidade porque temos que ir e voltar para cumprir todos os
compromissos. Mudamos várias vezes de canais em nossos televisores para
conseguir acompanhar as notícias, o esporte ou o seriado que nos interessa.
Muitas vezes, as constantes dores que sentimos são decorrentes de todo o stress
e loucura da velocidade que impusemos a nossas vidas. Até mesmo no amor e na
amizade estamos tresloucados pela insanidade da rapidez. Não nos importa mais a
qualidade nas relações pessoais. Por esse motivo e também por outros motivos
tão importantes quanto, há tantas separações, desentendimentos, desamor e
inimizades acontecendo hoje...
Claro que podemos mudar
esse cenário, primeiro passo é tentar se conscientizar da velocidade de nossa
própria vida. Perceber que subimos os degraus ou corremos pelos corredores
quando poderíamos apenas caminhar (mesmo que às vezes um pouco mais depressa,
se necessário). Se houver um esforço e aos poucos irmos nos dando conta de tudo
que estamos vivendo e do ritmo como estamos vivendo perceberemos que nossa vida
tem se tornado superficial em vários sentidos. As vezes não aproveitamos mais
os sabores decorrentes das possibilidades fantásticas que a vida nos dá. Não
percebemos mais os aromas, as cores, o brilho e a diversidade de tudo o que se
encontra ao nosso redor. Há tanta beleza e profundidade e as vezes só vemos
sombras... Há pais que vão aos eventos da escola de seus filhos somente para
filmar ou fotografar. Não se sensibilizam com as produções e realizações das
crianças. Parecem querer dizer que compareceram como se estivessem batendo o
cartão das empresas em que trabalham...
Quantas pessoas viajam para
os lugares mais especiais, com belas paisagens, museus fantásticos, igrejas
notáveis ou culturas interessantíssimas para conhecer e acabam passando tão
rapidamente por esses locais sem ao menos perceber ou vivenciar com um pouco
mais de profundidade esses caminhos...
Uma das mais importantes
experiências espirituais do mundo contemporâneo é a peregrinação pela trilha de
Santiago de Compostela na Espanha. Milhares de pessoas se aventuram por ela
todos os anos e saem revigorados. A espiritualidade aliada as belas paisagens
renovam os espíritos de muitas pessoas que a visitam. Já pararam para pensar
que esse fôlego renovado associado a caminhada para Santiago de Compostela
também deriva da caminhada, da paz e da calma de quem realiza essa rota, da
falta de pressa dos andarilhos?
Todos temos vivido dentro de
uma anormalidade tão grande no que se refere ao tempo que pensamos que as
coisas sempre estão acontecendo depressa demais. O dia de 25, 26 ou até 30
horas é o sonho de muitas pessoa. Nem o sono sagrado para o organismo humano
tem sido respeitado como deveria, por
isso e por outros motivos, o relógio biológico de cada ser humano está sendo
tão desrespeitado que entra em colapso causando noites e noites de insônia para
muita gente.
Tomando consciência do
problema, devemos reavaliar nossas prioridades. Vivemos buscando diferentes
interesses e temos que pensar qual deles é mais importante para nossas vidas. É
lógico que não dá para deixar de trabalhar, mas também não podemos trabalhar e
deixar de viver todas as outras importantes instâncias de nossas vidas. Ou
revemos nossa relação com o tempo e diluímos sua influência sobre nossas vidas
ou estamos fadados a sofrer ainda mais com as pressões insanas exercidas por
toda a velocidade em que vivemos...
Quando Einstein foi
perguntado sobre sua Teoria da Relatividade que versa sobre o tempo (sobre o
qual definiu que “o tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo
modo e por toda a parte”) respondeu que “quando um homem se senta ao lado de
uma moça bonita, durante uma hora, tem a impressão de que se passou apenas um
minuto. Deixe-o sentar-se sobre um fogão quente durante um minuto somente – e
esse minuto lhe parecerá mais comprido que uma hora. Isso é relatividade”. Que
tal pensar um pouco a respeito? Tempo é questão de preferência, precisamos
reavaliar nossas prioridades e tentar tirar o pé do acelerador!!!
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