Mulheres que correm com lobos...

 

2021...

Morri.
Perdi minha pele, arrancada na machadinha de Xangô. Fiquei nos ossos.
Senti minhas entranhas queimarem. Vazei minhas águas turvas.
Abracei o demônio inúmeras vezes e o agradeci outras tantas. Ele me levou ao inferno onde redescobri sombras esquecidas, dores adormecidas, onde contei em meus ossos, todos os golpes e os remontei esqueleto de mim mesma, numa nova versão.
Falei mais do que precisava e silenciei menos do que gostaria, mas não repetirei esses erros. O silêncio me chama para sua rede tranqüila.
Despedi-me de pessoas que gostaria de ter pela vida afora e trouxe pra perto surpresas incontáveis.
Fui sorteada pela loteria da vida, com presentes humanos de valores incalculáveis, que guardei no cofre do meu coração, para nunca os perder de vista.
Senti queimar meus preconceitos e fui queimada na fogueira de muitas vaidades, que sequer me conhecem.
Senti arder em brasa o espírito da ancestralidade em minha alma e os gritos de meus antepassados, que chamavam meu nome, incansavelmente: “Filha, esperamos sua volta”!
Encontrei irmãos de tribo e jornada, e desencaixei do sangue da carne. A alma me levou aos lugares que precisei estar.
Tropecei em pedras, duas, três vezes...mas as lições fizeram marcas indeléveis. Tatuaram no livro da minha pele, as marcas do crescimento e os aprendizados vividos.
Honrei pés e jornadas, Mãos e suas bênçãos. Curei maldições.
Senti o fel da bílis queimar o fígado e vomitei toda a raiva que insistia em fazer morada em mim.
Mergulhei fundo na lama das minhas memórias e dores pra renascer lótus, inexoravelmente purificada.
Estendi as mãos em auxilio e recebi flores nos pés.
Gritei muitas vezes sozinha, pedindo socorro aos céus; Os espíritos de luz sempre vieram trazer alento. Nunca estive só, senão por escolha.
Me entreguei em abraços e acolhi muitos braços.
Nadei nas águas da vida, me afoguei de sede. Retornei à tona amparada por um Manto Sagrado de Luz.
Sentei na beira do rio e vi Oxum me banhar. Amor, sei, não irá me faltar.
Não pulei sete ondas, infelizmente, ainda assim Yemanjá pariu novamente minha alma pra seguir jornada.
Ogum veio e cortou a prepotência na espada da Lei e ensinou sobre a humildade dos pés descalços.
Fui menina, cresci, virei inúmeras mulheres em uma só. Morri.....renasci, bati asas, voei longe.....voltei!
Estou de volta ao início, com mais de trezentas outras novas casas para conhecer....cada dia uma porta se abre, uma janela se volta pro sol, uma estrada é trilhada, um aprendizado colhido, um amor semeado.
Recomeçar, reprogramar, refazer mas, o mais importante é fazer o novo, o que nunca foi feito, desabrochar...FLOR-E-SER!
Gratidão seu lindo, que me chacoalhou tanto, me descascou feito cebola e me trouxe desperta para um novo traçado, um novo mapa e assim, pisar em novos e sagrados territórios!
Fui guerreira e me fiz paz.
Bendito seja o Tempo!
Abençoado seja o Tempo!
Sagrado seja cada Espaço!
Sagrada vida que segue!
Por Rose Kareemi Ponce

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